terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Se alguém tivesse avisado...

Ela mais uma vez estava ali, sem ter controle de nada, porque logo de cara se afundou no mar azul que resolveu brotar na sua frente.


Se alguém tivesse avisado que o tal mar era tão fundo quanto ela mesma...

Talvez ela tivesse levado bóias... mas já não dava mais tempo. As vezes passava o tempo olhando o céu, que parecia mais azul do que o próprio mar, mas as vezes era escuro e chegava a ter nuvens que lhe causavam medo.

Se ao menos tivessem avisado dos perigos que corria...

Se ao menos ela tivesse ouvido a única frase que lhe disseram antes de ela se jogar...

Cuidado cuidado a voz gritava dentro de si, lhe disseram para ter cuidado, mas ou se vive por completo ou tem medo e se vive pela metade. Ela resolveu viver por completo. Afinal, o enorme vão que existia entre ela e a imensidão do mar era tão grande, que o desafio passava a ser gostoso a cada dia que passava, a cada nova sensação que brotava.

Se ao menos tivessem avisado dos sentimentos, dos medos, dos receios, dos erros...

Mas era tão gostoso. As cores, as palavras que soavam naquela imensidão lhe nutriam de coragem. Tanta coragem que a vertigem que sentiu ao arriscar logo passou quando seu pé tocou aquela água. Era gelada, geladissíma.

Se ao menos tivessem avisado do entorpecer que é se viver em águas tão geladas...

Mas se o corpo acostuma com a temperatura da água, ela há de se acostumar com a vulnerabilidade daquele mar. O mar era imenso, mais do que se podia enxergar, e ainda hoje, depois de algum tempo, entre céus, nuvens escuras, estrelas, ela ainda descobre que o mar é ainda maior...

Ela descobre todos os dias mais estrelas espetaculares, nuvens escuras amedrontadoras, pássaros que lhe tiram a concentração...

E as vezes acaba percebendo que a maioria das nuvens, dos pássaros e até das estrelas é culpa da aquarela que ela leva consigo... no coração.

E se pelo menos tivessem avisado, que a aquarela um dia vai acabar e que ela vai precisar de mais cores, talvez ela pintasse só aquilo que se faz necessário, e deixasse as nuvens um pouco pra lá e colorisse apenas o que vale realmente a pena...

se valer a pena...



Se pelo menos tivessem avisado, talvez ela ficasse só na beirinha, bem no raso, nostalgiando com seus castelos de areia...





Talvez.


Texto por Beea Lima